06/10/2010

"Estamos vivendo um momento de ruptura"

Entrevista com: Robinson Cavalcanti

A que o senhor atribui a inesperada votação obtida por Marina Silva?

Acho que ela representou uma proposta de ética, não só de discurso mas de exemplo de vida. Somaram-se a ela muitos dos que apoiaram o Governo Lula e tinham críticas a possíveis comportamentos éticos, os que tinham maior preocupação com o meio ambiente, pessoas da uma classe média e de uma juventude que não se identificava com as duas propostas, de Dilma e de Serra. Também os setores religiosos, tanto de católicos quanto evangélicos que enfatizam muito valores na questão da vida. É até uma identificação simbólica porque, ao mesmo tempo que Marina foi militante católica da Teoria da Libertação, incorporou os pentecostais porque é membro da Assembleia de Deus e viu uma adesão grande das igrejas protestantes históricas.

O que mais lhe chama a atenção e que pode ser importante no voto do segundo turno?

Há um ponto central: Por herança do positivismo, indo para o marxismo, as pessoas não entenderam que há uma diferença entre Estado e nação. O nosso Estado é laico, mas a nação é religiosa. As elites pensantes não entenderam que o Estado é um ente político-jurídico, enquanto a sociedade tem uma história, cultura e valores. Isto antropologicamente é denominado nação e ela é formada por religiosos. Detectar que os eleitores querem a expressão das suas crenças e valores é entender que existe uma nação pulsante dentro do Estado. Estamos num momento de ruptura, de compreensão desses novos paradigmas. Os políticos vão ter de entender isso, senão vão perder a eleição.

E qual seria essa ruptura?

A discussão é: os eleitores fazem parte da nação e não se pode dizer numa eleição 'por favor, não leve em conta suas crenças religiosas no espaço público'. Esse é um discurso da ideologia secularista que nos une agora no século 21 à Europa Ocidental. Ocorre que não estamos na Europa Ocidental. É preciso se entender que o ser humano não é só economia, não é só racionalidade. É um ser múltiplo, um ser cultural e um ser ético.

Olhando pelo ângulo inverso: o que teriaatrapalhado a candidata da ex-ministra Dilma?

Por um lado, um papel não isento da imprensa. Segundo lugar, o escândalo da Erenice (Guerra) porque a bandeira do PT sempre foi da ética. Depois, a candidatura de Marina, que quebrou a polarização. Há outros fatores, como a orquestração suja de boatos em que se passou a acusar a Dilma com frases como "nem Jesus Cristo é capaz de me derrotar". Isso teve um efeito muito grande. Tenho uma rede de igrejas e projetos sociais que me faz circular e noto que as pessoas estão profundamente confusas com isso.

Em virtude desses boatos, é possível se apontar uma tendência dos evangélicos para o segundo turno?

As pessoas estão muito mais fazendo perguntas que elaborando respostas. Estão num momento de dúvida. Pouco se fala da questão religiosa, mas ela é profunda e representa muito, inclusive porque é grande a percentagem de protestante na população.

E qual será a lógica predominante entre os evangélicos na hora da escolha?

Para mim, o discurso que sensibilizará é um discurso que caminha para o social-progressista e de uma lógica moral conservadora.
 
Fonte: Diário de Pernambuco

05/10/2010

"A política é um bom meio de vida para quem é ladrão e mentiroso"

"Eu quero pensar, mas pensar objetivamente e emocionalmente. Eu sei que a política é um bom meio de vida para quem é ladrão e mentiroso. Para quem é do bem e honesto é uma tarefa difícil de sempre nadar contra a corrente todos os dias".

Dois dias após as urnas confirmarem sua derrota oficial na disputa ao Senado, a vereadora Heloísa Helena (Psol) apareceu publicamente na primeira sessão da Câmara Municipal em Maceió. Não fez discursos e atendeu muitos telefonemas. "Agradeço aos 417.636 votos. Foi uma eleição difícil".

Mapa político: veja os eleitos e a composição do Senado

Há dois meses, Heloísa Helena estava na ponta nas pesquisas ao Senado. A entrada do presidente Lula, pedindo votos ao deputado federal Benedito de Lira (PP) e Renan Calheiros (PMDB), no guia eleitoral, causou um efeito devastador. Ela ficou em terceiro lugar, com 16,6% dos votos.

"Tive de enfrentar a máquina dos governos federal, estadual e municipais. Foi uma máquina de moer gente", disse. "Desde o início, eu sabia que seria difícil. Mas, o que é difícil a gente faz. O impossível a gente tenta".

O candidato ao governo de Alagoas pelo Psol, Mário Agra, ficou com 1,37% dos votos na disputa. Benedito de Lira era apoiado pelo governador Teotonio Vilela Filho (PSDB); Renan pelo ex-governador Ronaldo Lessa (PDT). Teotonio e Lessa se enfrentam no segundo turno. Ambos elogiam Lula em seus palanques. Lessa, oficialmente, é o candidato do Palácio do Planalto em Alagoas.

O Psol nacional não pedia votos a Heloísa, que declarou preferência por Marina Silva (PV). O candidato do partido à presidência da República, Plínio de Arruda Sampaio, não pisou em Alagoas. José Serra esteve duas vezes, em encontro com os tucanos; Dilma Rousseff recusou até os convites para receber títulos de cidadã alagoana e maceioense. O senador Fernando Collor (PTB) pedia votos para a petista.

O tostão e o milhão

"Foi uma vitória nossa. Não tínhamos riqueza e havia o poder político e econômico. Enfrentei desde o presidente da República até as instâncias locais", disse a vereadora.

"Eu quero pensar, mas pensar objetivamente e emocionalmente. Eu sei que a política é um bom meio de vida para quem é ladrão e mentiroso. Para quem é do bem e honesto é uma tarefa difícil de sempre nadar contra a corrente todos os dias", disse, negando que vá desistir da política.

"Todas as pessoas dignas que estão na política pensam em deixar. É natural. Mas, não vou dar este gosto aos meus adversários políticos. Não vou dar a eles esta dupla vitória. A gente tem que pensar no papel que a gente cumpre na sociedade".

Em feiras no interior de Alagoas, onde aparecia para distribuir santinhos, era acompanhada por jagunços de prefeitos e vereadores. Na capital, o prestígio de Lula "demonizou" Heloísa. Chegou a ser hostilizada em alguns lugares. Não fala do assunto. Derrotada, fica mais dois anos na Câmara. Ela é oposição ao prefeito Cícero Almeida (PP), apesar de evitar críticas a administração dele.

Em 2003 era senadora pelo PT. Por críticas a Lula e a política econômica, foi expulsa do partido. Com ex-petistas fundou o Psol. Em Alagoas, o partido tem, além de Heloísa, o vereador Ricardo Barbosa, que era candidato a deputado estadual. Ele também perdeu a eleição.

Fonte: Terra

PS.Não consegui entender aqui do Rio Grande do Sul, como uma pessoa da estirpe de Heloísa Helena não conseguiu se eleger. 
Realmente esse governo é insano, o Lula pedindo votos para o Renan Calheiros é de doer e falam que o pior está por vir.