21/04/2008

Religiões na mídia, por Ir. Lédio de Jesus Matias*



Está cada vez mais difícil em nosso país ver televisão, ouvir rádio ou ler um jornal sem nos perguntarmos a qual denominação religiosa pertence esse programa ou meio de comunicação.

Milhões são gastos diariamente em programas e materiais de cunho religioso. Não quero entrar no mérito da origem desse dinheiro e do quanto ele poderia ser aplicado em outras ações, bem mais meritórias, e quanto bem ele poderia fazer, se bem aplicado.

Sei que estou tocando num assunto polêmico e de difícil abordagem, visto que, como se diz em ditados populares, religião, futebol e política não se discutem. Como cristão, e formado em Teologia, eu deveria me sentir feliz e orgulhoso em ver Jesus Cristo sendo tão anunciado e propagado como está sendo atualmente.

Mas, na verdade, eu me pergunto: Será que Jesus Cristo, do qual conhecemos bem as características, simples e silenciosas, de anunciar Deus, seu Pai, está feliz e é dessa forma que quer ser anunciado? Será que ele se sente bem sendo exposto diariamente por diversas opções religiosas como um mero produto de venda e consumo, para satisfação e gozo pessoal? Será que ele se sente bem em ser apresentado como a solução de todos os problemas?

Acredito que até aqueles que, em tempos passados, anunciavam o fim das religiões e da fé cristã estão surpresos e com dificuldade de entender e explicar essa avalanche de programas religiosos que estamos presenciando.

O Cristo da Bíblia que conhecemos não gostava de ser usado e apresentado dessa forma pelos seus. Ao ver o templo de sua época sendo utilizado indevidamente, como lugar de vendas e de exposição errônea da fé, sentiu ira e mostrou-se inconformado com tal fato.


Ele preferia sempre anunciar e fazer suas pregações nas casas de famílias e nos lugares pobres e, quando percebia que era procurado apenas pelos milagres que realizava, evitava se utilizar disso como um trunfo e procurava se afastar para lugares desertos.

Com certeza, a Bíblia é farta de vários outros exemplos bonitos de condutas de Jesus, que viveu sua vida toda fazendo o bem, acolhendo crianças, coxos e paralíticos. Todos esses belos exemplos de vida nos fazem pensar seriamente se esse bombardeio do uso do seu nome é realmente a forma mais adequada e evangélica de se fazer.


Temo que toda essa exposição exagerada da fé cristã possa se tornar algo tão comum e banalizado que as pessoas já nem se dêem mais conta do quanto deve ser sagrado e divulgado com respeito e cuidado o nome e a pessoa de Jesus Cristo.

Diante de tantos convites para abraçarmos uma determinada fé em detrimento de outra, é difícil não ficarmos na dúvida de qual será mesmo a verdadeira denominação religiosa que temos que seguir.

Por isso, finalizo este texto ousando recordar aos líderes religiosos de nossas igrejas cristãs o versículo bíblico em que o próprio Cristo reza pela unidade dos cristãos, dando-nos a entender que não há sentido nenhum em ficar disputando fiéis para suas fileiras, sem levar em conta a forma e o jeito de fazê-lo: "Pai Santo, guarda-os em teu nome, o nome que me deste, para que eles sejam um, como nós somos um" (Jo, 17,11).

Almejo, assim, que busquemos acima de tudo, independentemente de nossas crenças ou convicções religiosas, fazer sempre o bem, tornando esta casa em que vivemos um lugar mais digno e humano para todos.


*Teólogo e pedagogo, mestre em Educação


Fonte Jornal Zero Hora edição de 20 de abril de 2008.

Um comentário:

Anderson disse...

Na verdade, em toda esta exposição midiática da igreja evangélica, Jesus está em segundo plano.
O que é mais importante para a maioria dos telepregadores é aparecer, ficar famoso.
E pra isso, a mensagem pura do evangelho não é muito eficiente, de modo que eles têm que fazer alguns ajustes a fim de que a pregação fique mais atraente
É aqui que o negócio fica realmente complicado, pois a mensagem do evangelho começa a ser deturpada.
Irmão, gostei muito do seu blog. Acabei de linká-lo no meu. Fique na Paz.
www.gracasomente.blogspot.com