29/05/2010

A Onda... Evangélica!

Por Leandro Barbosa


“Com ou sem religião, pessoas boas farão coisas boas e pessoas ruins farão coisas ruins.

Mas para pessoas boas fazerem coisas ruins é preciso religião.” Steven Weinberg


Estes dias assisti a um filme que se chama “A Onda”, é um filme de produção alemã, que trata da história de um professor de uma escola pública que bola uma estratégia mirabolante como forma de provar suas teorias não ortodoxas. Ele convoca os seus alunos há viver uma semana com algumas regras, a fim de formarem um grupo distinto, sem diferenças, onde todos vestiriam naquela semana a mesma cor, falariam dos mesmos assuntos, e andariam juntos a se ajudar. Logo como grupo se cognominou como “A onda”, só que o interessante é que com o decorrer da semana o que era um exercício de sala de aula se tornou uma bola de neve descontrolada, ao ponto de no final da semana um grupo gigante de pessoas estarem formando um grupo paramilitar, que só veio a acabar com o suicídio de um aluno integrante do grupo, devido a tentativa do professor em parar aquele movimento.






Para mim pessoalmente foi chocante a experiência, pois pouco a pouco comecei a me identificar com as experiências vividas pelos adolescentes, e vou citá-las para vocês. A convivência daquele grupo como uma proposta de vida onde as diferenças sociais seriam extintas, onde não haveria mais classes sociais e desigualdades, tomou uma proporção na mente daqueles jovens, que logo eles sentiram um sentimento de superioridade de propósito, e passaram a um segundo estagio de descriminação dos diferentes. Em sala de aula havia uma proposta de ordem, que era passada como uma idéia de harmonia, onde a partir de uma obediência cega entendia-se que estes, eram padrões eram significado de fidelidade a um propósito maior. Logo sob um pretexto de harmonia e singularidade, como que entorpecidos por uma droga o grupo começou a exercer atos de barbárie contra os diferentes, e estipular os limites de liberdade para os outros colegas da escola.






Por mais que pareça cômico e até meio trágico, as semelhanças não são mera coincidência, mas impressões do que uma filosofia de conquista que pretexte melhoras em base da exclusão é verdadeiramente destrutiva, não só para os meios onde são exercidas, mas acima de tudo para as pessoas que participam. Por minha experiência pessoal, posso dizer sem medo de que os evangélicos são campeões em vender estes perfis de ideologia. Conquistam adeptos sobre pretextos de uma vida melhor, afirmando que a partir da agregação ao grupo, passa-se a ser uma “raça superior”, ou na linguagem evangélica; “nação santa”, “sacerdotes”, “reis”, “Príncipes”, e sobre esta idéia constroem uma realidade que oprime o diferente. Nestes meios assim como nestes sistemas ditatoriais, não existe espaço para questionamentos e discordâncias, a fidelidade é exigida acima de tudo, fidelidade esta que também é sinônimo de comungar com atos de barbárie que são tidos como justiça, endossadas pelos líderes como vontade divina.






Dentro destes ambientes ilusórios, multidões que caíram no enredo deste mundo fictício criado por religiosos fanatizados, vivem uma inverdade que mais é uma cadeia, pois nele se negam a questionar a imperfeição e desconexão com a realidade do sistema ao qual estão inseridos. Os lideres por sua vez, não aceitam serem questionados, e impõem-se de forma massiva sobre seus opositores, e quando sofrem resistência perdem o rumo de suas convicções, partindo para atos de ignorância ou para perda de suas referencias. Este sistema “evangélico” é uma verdadeira ditadura religiosa, que a meu ver às vezes passa a ser pior que uma filosofia “talibã” ou aristocracia radical. Pois sobre uma mensagem de bondade e amor ao próximo, subjetivamente distorcem a mesma, tornando-se instrumentos de segregação e ganância.






Talvez para uma mente mais evangélica o meu texto vai soar como heresia ou blasfêmia, mas para quem foi vitima do mesmo, trará uma compreensão e capacidade maior de lidar com esta realidade. Sim por mais triste que seja grande parte de nós cai no “conto do vigário”, e sobre um falso pretexto de bondade, uma ânsia de encontro com Deus, acaba por cometer atrocidades até o dia em que somos vítimas das mesmas. Creio que nosso maior desafio “e falo por experiência pessoal”, é encontrar Deus em meio a toda esta bagagem e informações as quais fomos por anos condicionados. De todas as minhas experiências, em toda minha caminhada, posso afirmar com garantia que Deus não é propriedade exclusiva dos evangélicos.






Quero desafiar a você a um requestionar de valores, a parar e perceber se você não é apenas mais um integrante da “Onda”, que esta tão cego ao ponto de não ter mais empatia e tato para sentir que existe um mundo a sua volta. Deus não criou você para ser um covarde que foge da vida, mas alguém que vive o seu “mundo” com caráter, sem precisar da proteção da “onda” ou da indicação de cegos guiando cegos, para ser apenas humano.



Bem e Paz



Leandro Barbosa

Fonte: Blog Leandro Barbosa

13/05/2010

A molecagem dos moleques da vila

Por Ed Rene Kivitz

No episódio envolvendo os jogadores do Santos numa visita ao Lar Espírita Mensageiros da Luz, que cuida de crianças com paralisia cerebral para entregar ovos de Páscoa, uma parte dos atletas, entre eles, Robinho, Neymar, Ganso e Fabio Costa, se recusou a entrar na entidade e preferiu ficar dentro do ônibus do clube, sob a alegação que são evangélicos e não sabiam que se tratava de uma casa espírita.
Os meninos da Vila pisaram na bola. Mas prefiro sair em sua defesa. Eles não erraram sozinhos. Fizeram a cabeça deles. O mundo religioso é mestre em fazer a cabeça dos outros. Por isso cada vez mais me convenço que o Cristianismo implica a superação da religião, e cada vez mais me dedico a pensar nas categorias da espiritualidade, em detrimento das categorias da religião.

A religião está baseada nos ritos, dogmas e credos, tabus e códigos morais de cada tradição de fé.
A espiritualidade está fundamentada nos conteúdos universais de todas e cada uma das tradições de fé.
Quando você começa a discutir quem vai para céu e quem vai para o inferno, ou se Deus é a favor ou contra à prática do homossexualismo, ou mesmo se você tem que subir uma escada de joelhos ou dar o dízimo na igreja para alcançar o favor de Deus, você está discutindo religião. Quando você começa a discutir se o correto é a reencarnação ou a ressurreição, a teoria de Darwin ou a narrativa do Gênesis, e se o livro certo é a Bíblia ou o Corão, você está discutindo religião. Quando você fica perguntando se a instituição social é espírita kardecista, evangélica, ou católica, você está discutindo religião.



O problema é que toda vez que você discute religião você afasta as pessoas umas das outras, promove o sectarismo e a intolerância. A religião coloca de um lado os adoradores de Allá, de outro os adoradores de Yahweh, e de outro os adoradores de Jesus. Isso sem falar nos adoradores de Shiva, de Krishna e devotos do Buda, e por aí vai. E cada grupo de adoradores deseja a extinção dos outros, ou pela conversão à sua religião, o que faz com que os outros deixam de existir enquanto outros e se tornem iguais a nós, ou pelo extermínio através do assassinato em nome de Deus, ou melhor, em nome de um deus, com d minúsculo, isto é, um ídolo que pretende se passar por Deus.

Mas quando você concentra sua atenção e ação, sua práxis, em valores como reconciliação, perdão, misericórdia, compaixão, solidariedade, amor e caridade, você está no horizonte da espiritualidade, comum a todas as tradições religiosas.

E quando você está com o coração cheio de espiritualidade, e não de religião, você promove a justiça e a paz. Os valores espirituais agregam pessoas, aproxima os diferentes, faz com que os discordantes no mundo das crenças se deem as mãos no mundo da busca de superação do sofrimento humano, que a todos nós humilha e iguala, independentemente de raça, gênero, e inclusive religião.

Em síntese, quando você vive no mundo da religião, você fica no ônibus. Quando você vive no mundo da espiritualidade que a sua religião ensina – ou pelo menos deveria ensinar, você desce do ônibus e dá um ovo de páscoa para uma criança que sofre a tragédia e miséria de uma paralisia cerebral.



Fonte: Comunidade Orkut Caio Fábio