12/03/2010

ADORADORES DA LETRA MORTA


"Adoradores da letra morta", em minha opinião, são todos aqueles que não se deixam conduzir pela consciência gerada pelo "espírito do Evangelho", em cada geração, e querem sempre conduzir as pessoas para um ambiente que eles imaginam ser perfeito, no passado, haja vista que tal ambiente ficou registrado em alguma "escritura", a quem eles dão mais valor do que ao "espírito".


Para ficar mais fácil a compreensão do que eu quero dizer, basta trazer a memória o caso da Escravidão. Qualquer um que pesquisar sobre o assunto verá que o argumento básico dos favoráveis a Escravidão era: não há nenhuma condenação a prática da mesma nas escrituras... se fosse errado possuir escravos, não teria Jesus e/ou os apóstolos deixado isso claro falando contra?... etc.


Detalhe, os favoráveis a Escravidão não eram considerados "hereges", mas eram aqueles que hoje são cultuados como ortodoxos, tradicionais, reformados, gente que "defende as escrituras", etc. Poderia citar inúmeras outras questões que o "apego a letra morta" expôs: a liberdade das mulheres (votar, pedir o divórcio, etc.), o fim da Monarquia como forma preferencial de governo (o Rei possuía o direito divino de reinar, conforme "a letra morta"), e por aí vai...
 
"Adoradores da letra morta" são aqueles que conferem a Escritura (seja ela de que qual religião for...Judaica, Cristã, Islâmica, Hindu, etc.) o mesmo papel que os juristas modernos conferem ao Código de Leis e a Constituição que regem um país. Eles não se deixam guiar pelo "espírito", mas sim pela "letra".



O melhor exemplo que eu posso dar disso é o caso do deputado Ronaldo Cunha Lima, réu num processo de tentativa de assassinato de um adversário político na Paraíba. Durante anos, ele evitou a punição por tal crime tendo uma cadeira no Congresso, por conta da Lei que diz que só o Supremo Tribunal Federal pode julgar um parlamentar. Quando o STF decidiu julgá-lo, ele renunciou ao mandato e o processo voltou ao início. O relator do processo no STF, ministro Joaquim Barbosa, queria continuar o julgamento, já que o STF é a última instância da Justiça no Brasil, e o réu renunciara apenas para fugir da punição prevista na Lei. Os colegas do ministro preferiram seguir "a letra da Lei" do que o "espírito da Lei". O resultado é que o ex-deputado continua impune.

No caso da Justiça humana, ainda há uma possibilidade de melhoria, haja vista os parlamentares podem criar novas Leis. No caso dos "adoradores da letra morta" das "escrituras sagradas", não há esperança de melhora, haja vista que não se pode mais criar "novas escrituras".
 
Por Bento
 
Fonte: Comunidade Caio Fabio Leitores/Ouvintes

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá

Concordo com o autor do texto. Realmente, falta à maioria dos crentes compreender o espírito da Palavra, para então não se apegarem à letra morta.

Muito feliz a observação feita logo no primeiro parágrafo:

"[...] querem sempre conduzir as pessoas para um ambiente que eles imaginam ser perfeito, no passado, haja vista que tal ambiente ficou registrado em alguma 'escritura', a quem eles dão mais valor do que ao 'espírito'".

Forte abraço.