15/03/2011

Tsunami e uma teologia da compaixão



Por: Marcelo Rosa da Silva

Assisti, com assombro, às imagens do terremoto e do tsunami no Japão. A força do abalo sísmico e o poder das ondas gigantes engolindo tudo de modo avassalador impressionam. Admira-me, também, a capacidade que os japoneses tem de lidar com eventos desse tipo, o preparo que o país tem para diminuir os efeitos dessas catástrofes. Fosse num país pobre, centenas de milhares teriam morrido. Mesmo assim é triste ver que muitos morreram e alguns milhões estão numa situação precária.

Não tenho dúvida que eles conseguirão se reerguer. Um país que já passou por várias tragédias naturais, crises financeiras severas e por duas bombas atômicas, vai se recuperar. Triste mesmo para as famílias que perderam a quem amavam. Para estas, ainda que o país, como um todo, se recupere, o lamento pela perda e a dor por quem se foi vai continuar.

Por outro lado, fico devastado com as afirmações de que Deus desejou tal tragédia para que pessoas se rendam a Jesus e, no fim, tudo redunde em glória para Si. Chego a ver sangue nos olhos de quem sente certo gozo com acontecimentos como o do Japão, vociferando que são “apenas” cumprimento de profecias bíblicas. Não há compaixão pelas pessoas, apenas contentamento em reafirmar “verdades” inquestionáveis. Lamento.

Lamento que, em nome de Deus, se digam palavras tão agressivas e tão desprovidas de compaixão, de amor, que é a essência de Deus. No momento de se tornarem gigantes de misericórdia e solidariedade, se apequenam, tentando defender a idéia de um Deus que determina tragédias e cuja glória se alimenta da dor das pessoas. Esse é um ídolo, não Deus.

Admitir que Deus esteja determinando tudo o que acontece e que nada foge ao seu controle, é jogar na conta de Deus todo o mal do mundo. Se assim fosse, o estupro de uma criancinha seria querido e determinado por Deus, para sua glória. A morte de um filho ainda moço seria algo que redundaria em um bem maior, mesmo que seu pai já fosse um homem piedoso. A fome em países africanos, ou na periferia de nossa cidade, seria algo da vontade de Deus. E não é. Pelo menos não é da vontade do Deus Pai de Jesus Cristo, pleno de amor, que nos chama à compaixão e à solidariedade.

Não, não creio que Deus determinou o terremoto e o tsunami no Japão, foi o movimento das placas tectônicas. Não estamos na Idade Média, sabemos como essas coisas acontecem. Vontade de Deus é que todos sejam compassivos e solidários aos que sofrem todo e qualquer tipo de dor, de longe ou de perto. O que Deus determina é que sejamos como o bom samaritano, que, ao contrário de oficiais da religião da época, que passaram ao largo, cuidou de quem estava agonizando à beira do caminho.

Se nossa teologia não servir para promover a vida e dignificar a pessoa humana, para nada serve. Ou melhor, serve sim, para agudizar a dor dos que já sofrem e alimentar o cinismo de quem pouco se importa.

Fico com o Deus de Jesus Cristo, que se coloca ao lado do que sofre, e, de tanto que ama, sofre também. E me convida a fazer o mesmo, para que minha vida seja uma expressão de seu amor, seja um milagre para os que esperam por ele e, então, sua glória seja manifesta.


Márcio Rosa da Silva via Visão Integral

Um comentário:

Anônimo disse...

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