Eu li nas Sagradas Escrituras que “os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras de suas mãos” [Sl 19,1].
Fiquei preocupado e me perguntei: quais céus? Digo isso porque o céu criado por Deus, azul tão belo, fora azulejado por um cinza que dá desgosto.
Nada contra o cinza. Mas esse acinzentado que se vê tem a cor do pecado da ganância e do desamor.
Por conseguinte, hoje eu descarto o tom bem-humorado, poético e/ou acadêmico...
Segundo o calendário litúrgico vivemos o Tempo Comum.
Neste período é ressaltado que Deus age no cotidiano, nas coisas simples da vida e em toda a Criação.
Por isso, muitos templos são ornamentados com a cor verde nesta época. Pensando nisso, eu questiono a ação profética da maioria das pessoas que se afirmam cristãs neste país, porque a profecia cristã foi pervertida ao ponto de ser confundida com adivinhação do futuro.
Além disso, várias novelas e programas televisivos reforçam tal idéia “emburrecendo” as gentes.
A quantidade de católicos/as, ortodoxos/as e evangélicos/as é imensa. Conforme o último senso o grupo evangélico é 15,7% da população brasileira. Imagine todo esse povo reunido contra todas as ações governamentais e privadas que agridem a Natureza e a Vida Humana.
Imagine que todos/as os/as cristãos/ãs têm consciência de que toda a forma de agressão ao mundo criado é uma afronta contra Deus.
Imagine que tais pessoas parem de trabalhar, comprar e pagar impostos em protesto às bestialidades que são praticadas nesta terra de ninguém até que as coisas se normalizem.
Digo normalizem porque a anormalidade é normal por aqui.
Na frente de todos os templos poderiam ser colocados cartazes com a envelhecida frase atualizada: “Brasil: ame-o ou deixe-o. Pois, conforme o Evangelho, quem ama cuida, corrige, reage, muda, critica e age.”
Em outros termos, não dá para ficar nos templos buscando benefícios individuais de um “deus mesquinho e capitalista”, enquanto a Criação é deflorada e moída... há quem chame isso de conivência e/ou pecado.Se de um lado a Criação é violentada, do outro observa-se a busca, nos redutos cristãos, pelo poder do Espírito Santo para mandar nos/as outros/as e pisar naqueles/as que impedem os/as crentes de prosperar. Esquecem que o poder é concedido para servir a Deus e ao/à próximo/a com amor, liberalidade e alegria. O poder, quando exercido na perspectiva do Reino, faz brotar vida irrigando e adornando a Criação.(grifo meu)
Todos/as fazem parte do mundo criado, no entanto muitos/as se deslembram disso.
Contemplam-se políticos/as e poderosos/as viajando pelo mundo em seus jatos particulares despreocupados/as com a destruição da Terra, por outro lado alguns/algumas crentes ficam “viajando” nos templos em meio aos seus êxtases egoístas e às suas tradições idolátricas.
Muitas pessoas não reciclam o lixo.
Não cuidam dos rios e das matas.
Não tomam uma atitude com relação às empresas petrolíferas que forçam a todos/as a usarem seus produtos poluidores.
Aliás, os veículos continuam usando gasolina, álcool ou diesel, ao invés de energia elétrica, água, luz solar ou força eletromagnética.
Não reagem à desigualdade social, por isso ela aumenta celeremente.
Não cuidam das pessoas mais frágeis da sociedade, porque preferem o descaso e a insegurança generalizada.
Não fazem nada diante dos poderes corroídos pelo mau uso do dinheiro.
Não promovem a paz.
Não votam direito... na maioria das vezes por falta de boas opções.
Não punem os/as corruptos/as, afinal eles/as merecem desfrutar do conforto de suas mansões e de todo tipo de regalias.
Enfim, amam única e parcialmente os seus umbigos, logo ficam nos lugares de culto com as mãos levantadas ao céu glorificando a Deus e não dão crédito àqueles/as que asseveram profeticamente que a vida cristã envolve todas as áreas do viver. (grifo meu)
Eu poderia jogar a culpa para o Criador declarando que faltou conceder aos seres humanos inteligência e sensibilidade, mas não é o caso. Alguma coisa está errada.
Talvez não se façam mais discípulos/as de Jesus Cristo como antigamente.
Ser cristão/ã não necessariamente é o mesmo que ser católico/a, evangélico/a ou ortodoxo/a. Ser cristão/ã não é repetir rituais ou manter a família debaixo de um tradicionalismo inoperante e hipócrita.
Ser cristão/ã é assemelhar-se a Cristo, é segui-lo, é experimentá-lo dia-a-dia na comunhão com seu Espírito Santo, é agir de modo semelhante a Ele, é pastorear o mundo com amor.
Neste Tempo Comum a Criação geme... envergonhar-se diante de tanta pornografia seria um passo inicial oportuno.
Graça, paz e bem!
Postado por Edemir Antunes Filho
Postado por Edemir Antunes Filho
Sábias palavras de meu irmão Edemir que me autorizou a reproduzir o texto de sua autoria em sue blog.
Devemos refletir mais sobre nosso consumismo, vemos na mídia e aplaudismos quando vemos máquinas de milhões de dólares, automóveis com rodas de diamante fruto de uma cultura suícida e descomprometida com o futuro.
E no meio cristão se confunde a bondade de Deus e até comunhão com prosperidade material querem ter sem ser, quando a essência do cristianismo é ser.
Os desmatamentos, o desperdício de água em nossas casas, desperdício de tempo e dinheiro na construção de templos sofisticados para adorar Deus que vive e quer ser adorado em nossos corações.
Enfim teria muito que falar, mas no fundo cada um sabe o quão egoísta é, inclusive eu, e o que precisamos mudar para dar uma sobrevida a este planeta e aos nossos descendentes, que não tem culpa da ganância das gerações que as sucederam.
Abaixo uma letra regional do RS que expressa um pouco do que sinto quanto a ganância que campeia em nossas terras.
Cláudinho
Herdeiro da Pampa Pobre
Engenheiros do Hawaii
Composição: Gaucho da Fronteira - Vaine Darde
Engenheiros do Hawaii
Composição: Gaucho da Fronteira - Vaine Darde
Mas que pampa é essa que eu recebo agora
Com a missão de cultivar raízes
Se dessa pampa que me fala a história
Não me deixaram nem sequer matizes?
Passam as mãos da minha geração
Heranças feitas de fortunas rotas
Campos desertos que não geram pão
Onde a ganância anda de rédeas soltas
Se for preciso, eu volto a ser caudilho
Por essa pampa que ficou pra trás
Porque eu não quero deixar pro meu filho
A pampa pobre que herdei de meu pai
Mas que pampa é essa que eu recebo agora
Com a missão de cultivar raízes
Se dessa pampa que me fala a estória
Não me deixaram nem sequer matizes?
Passam as mãos da minha geração
Heranças feitas de fortunas rotas
Campos desertos que não geram pão
Onde a ganância anda de rédeas soltas
Se for preciso, eu volto a ser caudilho
Por essa pampa que ficou pra trás
Porque eu não quero deixar pro meu filho
A pampa pobre que herdei de meu pai
Herdei um campo onde o patrão é rei
Tendo poderes sobre o pão e as águas
Onde esquecido vive o peão sem leis
De pés descalços cabresteando mágoas
O que hoje herdo da minha grei chirua
É um desafio que a minha idade afronta
Pois me deixaram com a guaiaca nua
Pra pagar uma porção de contas
Se for preciso, eu volto a ser caudilho
Por essa pampa que ficou pra trás
Porque eu não quero deixar pro meu filho
A pampa pobre que herdei de meu pai
Eu não quero deixar pro meu filho
A pampa pobre que herdei de meu pai
Eu não quero deixar pro meu filho
A pampa pobre que herdei de meu pai
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