06/02/2008

Tempo (in) comum

Por Edemir Antunes http://edemirantunes.blogspot.com/

Eu li nas Sagradas Escrituras que “os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras de suas mãos” [Sl 19,1].


Fiquei preocupado e me perguntei: quais céus? Digo isso porque o céu criado por Deus, azul tão belo, fora azulejado por um cinza que dá desgosto.

Nada contra o cinza. Mas esse acinzentado que se vê tem a cor do pecado da ganância e do desamor.

Por conseguinte, hoje eu descarto o tom bem-humorado, poético e/ou acadêmico...
Segundo o calendário litúrgico vivemos o Tempo Comum.

Neste período é ressaltado que Deus age no cotidiano, nas coisas simples da vida e em toda a Criação.

Por isso, muitos templos são ornamentados com a cor verde nesta época. Pensando nisso, eu questiono a ação profética da maioria das pessoas que se afirmam cristãs neste país, porque a profecia cristã foi pervertida ao ponto de ser confundida com adivinhação do futuro.

Além disso, várias novelas e programas televisivos reforçam tal idéia “emburrecendo” as gentes.

A quantidade de católicos/as, ortodoxos/as e evangélicos/as é imensa. Conforme o último senso o grupo evangélico é 15,7% da população brasileira. Imagine todo esse povo reunido contra todas as ações governamentais e privadas que agridem a Natureza e a Vida Humana.

Imagine que todos/as os/as cristãos/ãs têm consciência de que toda a forma de agressão ao mundo criado é uma afronta contra Deus.

Imagine que tais pessoas parem de trabalhar, comprar e pagar impostos em protesto às bestialidades que são praticadas nesta terra de ninguém até que as coisas se normalizem.

Digo normalizem porque a anormalidade é normal por aqui.

Na frente de todos os templos poderiam ser colocados cartazes com a envelhecida frase atualizada: “Brasil: ame-o ou deixe-o. Pois, conforme o Evangelho, quem ama cuida, corrige, reage, muda, critica e age.”


Em outros termos, não dá para ficar nos templos buscando benefícios individuais de um “deus mesquinho e capitalista”, enquanto a Criação é deflorada e moída... há quem chame isso de conivência e/ou pecado.Se de um lado a Criação é violentada, do outro observa-se a busca, nos redutos cristãos, pelo poder do Espírito Santo para mandar nos/as outros/as e pisar naqueles/as que impedem os/as crentes de prosperar. Esquecem que o poder é concedido para servir a Deus e ao/à próximo/a com amor, liberalidade e alegria. O poder, quando exercido na perspectiva do Reino, faz brotar vida irrigando e adornando a Criação.(grifo meu)

Todos/as fazem parte do mundo criado, no entanto muitos/as se deslembram disso.

Contemplam-se políticos/as e poderosos/as viajando pelo mundo em seus jatos particulares despreocupados/as com a destruição da Terra, por outro lado alguns/algumas crentes ficam “viajando” nos templos em meio aos seus êxtases egoístas e às suas tradições idolátricas.

Muitas pessoas não reciclam o lixo.

Não cuidam dos rios e das matas.

Não tomam uma atitude com relação às empresas petrolíferas que forçam a todos/as a usarem seus produtos poluidores.

Aliás, os veículos continuam usando gasolina, álcool ou diesel, ao invés de energia elétrica, água, luz solar ou força eletromagnética.

Não reagem à desigualdade social, por isso ela aumenta celeremente.

Não cuidam das pessoas mais frágeis da sociedade, porque preferem o descaso e a insegurança generalizada.

Não fazem nada diante dos poderes corroídos pelo mau uso do dinheiro.

Não promovem a paz.

Não votam direito... na maioria das vezes por falta de boas opções.

Não punem os/as corruptos/as, afinal eles/as merecem desfrutar do conforto de suas mansões e de todo tipo de regalias.

Enfim, amam única e parcialmente os seus umbigos, logo ficam nos lugares de culto com as mãos levantadas ao céu glorificando a Deus e não dão crédito àqueles/as que asseveram profeticamente que a vida cristã envolve todas as áreas do viver. (grifo meu)

Eu poderia jogar a culpa para o Criador declarando que faltou conceder aos seres humanos inteligência e sensibilidade, mas não é o caso. Alguma coisa está errada.

Talvez não se façam mais discípulos/as de Jesus Cristo como antigamente.

Ser cristão/ã não necessariamente é o mesmo que ser católico/a, evangélico/a ou ortodoxo/a. Ser cristão/ã não é repetir rituais ou manter a família debaixo de um tradicionalismo inoperante e hipócrita.

Ser cristão/ã é assemelhar-se a Cristo, é segui-lo, é experimentá-lo dia-a-dia na comunhão com seu Espírito Santo, é agir de modo semelhante a Ele, é pastorear o mundo com amor.

Neste Tempo Comum a Criação geme... envergonhar-se diante de tanta pornografia seria um passo inicial oportuno.

Graça, paz e bem!
Postado por Edemir Antunes Filho


Sábias palavras de meu irmão Edemir que me autorizou a reproduzir o texto de sua autoria em sue blog.

Devemos refletir mais sobre nosso consumismo, vemos na mídia e aplaudismos quando vemos máquinas de milhões de dólares, automóveis com rodas de diamante fruto de uma cultura suícida e descomprometida com o futuro.

E no meio cristão se confunde a bondade de Deus e até comunhão com prosperidade material querem ter sem ser, quando a essência do cristianismo é ser.

Os desmatamentos, o desperdício de água em nossas casas, desperdício de tempo e dinheiro na construção de templos sofisticados para adorar Deus que vive e quer ser adorado em nossos corações.

Enfim teria muito que falar, mas no fundo cada um sabe o quão egoísta é, inclusive eu, e o que precisamos mudar para dar uma sobrevida a este planeta e aos nossos descendentes, que não tem culpa da ganância das gerações que as sucederam.
Abaixo uma letra regional do RS que expressa um pouco do que sinto quanto a ganância que campeia em nossas terras.

Cláudinho


Herdeiro da Pampa Pobre
Engenheiros do Hawaii
Composição: Gaucho da Fronteira - Vaine Darde


Mas que pampa é essa que eu recebo agora

Com a missão de cultivar raízes

Se dessa pampa que me fala a história

Não me deixaram nem sequer matizes?


Passam as mãos da minha geração

Heranças feitas de fortunas rotas

Campos desertos que não geram pão

Onde a ganância anda de rédeas soltas


Se for preciso, eu volto a ser caudilho

Por essa pampa que ficou pra trás

Porque eu não quero deixar pro meu filho

A pampa pobre que herdei de meu pai


Mas que pampa é essa que eu recebo agora

Com a missão de cultivar raízes

Se dessa pampa que me fala a estória

Não me deixaram nem sequer matizes?


Passam as mãos da minha geração

Heranças feitas de fortunas rotas

Campos desertos que não geram pão

Onde a ganância anda de rédeas soltas


Se for preciso, eu volto a ser caudilho

Por essa pampa que ficou pra trás

Porque eu não quero deixar pro meu filho

A pampa pobre que herdei de meu pai


Herdei um campo onde o patrão é rei

Tendo poderes sobre o pão e as águas

Onde esquecido vive o peão sem leis

De pés descalços cabresteando mágoas


O que hoje herdo da minha grei chirua

É um desafio que a minha idade afronta

Pois me deixaram com a guaiaca nua

Pra pagar uma porção de contas


Se for preciso, eu volto a ser caudilho

Por essa pampa que ficou pra trás

Porque eu não quero deixar pro meu filho

A pampa pobre que herdei de meu pai


Eu não quero deixar pro meu filho

A pampa pobre que herdei de meu pai

Eu não quero deixar pro meu filho

A pampa pobre que herdei de meu pai

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