16/10/2008

O choro de Lulu





Ontem minha filha Luísa de seis anos chorava muito e após várias tentativas de saber o motivo de seu choro ela falou com muita dificuldade que “-...a Lia (sua irmã de 14 anos), não havia desligado a lâmpada da sala e com isso ela não estava ajudando a economizar e salvar o planeta.” Após avisar a Lia que ela desligasse o interruptor, usasse por menos tempo o chuveiro para economizar energia e assim utilizasse racionalmente a energia e água, conversei com a Lulu falando que cada um deveria fazer sua parte e que eu estava muito feliz por ela se preocupar, mas que não precisava chorar.

A Lulu já aprendeu a separar o lixo para reciclagem, não desperdiçar água, reconhecer quando tem água parada no quintal para evitar focos de dengue, não jogar lixo na rua, diz para eu utilizar o carro menos do que utilizo (confesso que não é fácil) entre outras coisas. Por isso me encho de esperança pelo dia de amanhã, pois se dependermos dos boçais que “des-governam” esse país, em breve os rios e matas serão belas imagens armazenadas em algum canto da memória dos mais antigos e nos banco de dados de computadores.

Isso tudo me deixou a pensar sobre a simplicidade das crianças e como fixam os exemplos muito mais do que os adultos, que em tese teriam a responsabilidade em fazer as mudanças necessárias para que o mundo seja de fato habitável. Talvez seja essa a razão do reino de Deus estar mais para uma criança do que para um adulto que não tem o coração e a compreensão da vida como elas.

Mas a preocupação com o meio-ambiente da Lu e de muitos é algo que passa de roldão para a maior parte da atual geração gospel, lembro-me de uma canção lá dos anos 80 do Conjunto Novo Alvorecer que se chamava O Sonho :

“De repente eu me vejo numa nova cidade
Onde não há guarda e nem há ladrão
Onde os peixes do riacho não respiram detergente
Onde não há falta d’água e também não há enchente”

Um louvor que demonstrava já na época a agonia de uma natureza caotizada e explorada, hoje águas nos cânticos é só a dos “rios de Deus”, “chuvas de Deus” ou “águas do Trono”. Claro que é necessário lembrar dos rios de água viva fluindo, mas na maior parte destas canções são subjetivas e abstratas que fazem bem a emoção mas sem nenhum compromisso, preocupação ou responsabilidade em administrar e preservar os recurso que Deus colocou a nossa disposição para usar em favor de todos e que ano após ano vão sendo degradados e escasseados.

Se em Cristo foram criadas todas as coisas em cima da terra (Col. 1:16) não seria também nossa responsabilidade como seus seguidores preservar a criação? Lembro em muito as palavras do Rev. Floyd (hoje com 91 anos e muita lucidez), em uma mensagem que trouxe na Congregação Presbiteriana de Charqueadas há uns anos atrás sobre a responsabilidade do discípulo de Cristo com a criação e, sobretudo, com preservação dos recursos naturais principalmente à água potável, que é escassa, não renovável e fundamental para a vida e que esta vida seja com qualidade.

Hoje olho ao redor e percebo os filhos de Deus reivindicando e esbanjando a herança (que é de todos) nos prazeres e deleites da vida. Pedindo ao Pai benesses (confortos pessoais) que não são para o bem comum, senão para satisfazer o ego. O Pai é paciente e misericordioso, mas não queremos que reste apenas bolotas dos porcos para saciar a fome e sede (fato este que já é realidade em muitos lugares).

Há uns dias atrás estava em uma reunião do grupo caseiro de compartilhamento da Palavra e um irmão citou que queria ser abençoado com um carro, eu respondi que esse pedido de todo não era uma benção, pois aquilo que para ele era uma benção, na verdade para o meio-ambiente não era, se todos os amados de Deus tivessem um automóvel não haveria mais ar respirável no mundo, pois cada vez que acionamos a chave de nossas “bênçãos motorizadas” antecipamos um pouco mais o apocalipse do planeta. Claro que ele não concordou comigo, mesmo eu falando que como proprietário de veículo também tinha minha parcela de culpa.

Mas os corações engessados da religião consumista e predatória não se dão conta que a simplicidade, a comunhão e o partir do pão permitem que não haja escassez, geram qualidade de vida, corações fraternos, comunhão e proporcionam o uso racional dos recursos que Deus colocou a nossa disposição e das próximas gerações.

Eu espero de todo o coração que esta nova geração tenha sempre a capacidade de chorar como a Lulu, cada vez que testemunharem o desperdício e o descaso para com nossa casa comum chamado Terra.

Teria mais a escrever, por ora é isso.

Claudinho

PS. Em breve postarei a letra e a música de O Sonho para vocês conferirem o conteúdo de um louvor com os pés no chão e o coração em Deus.

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