17/05/2009

É tempo de festa na Igreja?




Disse J.I.Packer, "Put Holiness First", em Christian Life, maio de 1985, p.46:


"No final das contas, sobre o que é que pregamos e ensinamos e produzimos programas de TV e fitas de vídeo uns para os outros em nossos dias? A resposta geral à minha pergunta parece ser: sucesso e euforia ; obter de Deus saúde, prosperidade, ausência de preocupação e constantes sensações alegres."


O que mais me dói quando leio obras de homens e mulheres realmente usados por Deus é que parecem serem ditas ao vento. Estou lendo René Padilha (Missão Integral) - e seu texto de 75, refletindo um problema atual (em seus dias), infelizmente continua ainda mais atual hoje. O mesmo se dá com Moltmann (64 - teologia da Esperança), com Tozer (qualquer coisa, década de 60), e por aí vai.Packer, assim como outros é atualíssimo, pois há uma enxurrada de "palavra" sendo pregada, uma verborragia, nas palavras de Padilha, com resultados pífios. Mas em nome do pragmatismo, e do proselitismo descarado (com frases do tipo: "aqui Deus cura..." - está na hora de curar teu orgulho, caro "apóstolo"), em nome de templos cheios (de dizimistas, e números - "sucesso ministerial" - vaidade das vaidades), em nome do interesse espúrio e falso, vemos uma pregação vazia de prática e autenticidade; e tão verdadeira quanto uma nota de R$2,50.


Uns podem dizer que estou errado. Não vou discorrer muito sobre a questão, mas apenas 3 pontos:


1- Se o "evangelho" está crescendo, e o número de convertidos aumentando, por que o nível de analfabetismo, não diminui? Por que o número de crimes não diminui? Por que o número de políticos cristãos com testemunho de moral elevada não aumenta? Por que não se gasta menos em programas de televisão, som de igrejas e ar-condicionado de templos, e se investe mais em ação social? Quem separou o evangelho da ação social? Cristo, muito mais que anunciando o evangelho, mostrou-se sempre solidário com os necessitados;


2- Se o número de evangélicos está crescendo, e estes não são só nominais, o famoso crente de carteirinha, mas sim de praticantes dignos do adjetivo: cristão, por que mais e mais o testemunho cristão coletivo sofre por causa de iniciativas nada ortodoxas (para não dizer: vulgar, hipócrita, ladra e lasciva), de membros, pastores e de pessoas que não se contentam com o título pastor e se auto-intitulam algo a mais? Quem separou o cristianismo do testemunho pessoal e do bom testemunho dos de fora? Quem separou o evangelho da moral e da ética? Cristo incomodou muitos, mas não se achou dolo algum em Seus atos e palavras;


3- Se o número de templos evangélicos está crescendo, e estes querem impactar realmente a sociedade, por que não há mais ações de e em comunidade? Quem fez a separação litigiosa entre a igreja e o mundo? Orou Jesus: "Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal. Não são do mundo, como eu do mundo não sou." João 17.15-16.


Não pertencemos ao mundo, mas estamos no mundo, e é ao mundo que deveremos levar a mensagem do evangelho. Mensagem completa: Senhorio de Cristo, arrependimento, salvação, santificação e obras (não como fim de salvar, mas como o fim do que é salvo). Por que a igreja não pode limpar um parque ao invés de ajudar a sujar as ruas com folhetos? Por que a igreja não pode levar canções e amor a um asilo ou orfanato, ao invés de ser multado pelo alto volume do som de seus templos? Por que não vemos mais ações de visitar os doentes, os enfermos, os presos, os pecadores onde eles estão (ruas, prostíbulos, bocas, danceterias, etc)?


Somos sal de saleiro, sem uso, envelhecendo? Somos luz guardada para uma emergência maior? Não basta a catástrofe em que vive a humanidade caída?


Não sou especial, em quase tudo descrito acima, participo errando também (senão em tudo). Não há uma denominação errada, há uma geração errada, perdendo o kairós (o tempo certo) de se manifestar o kerygma (anúncio de Cristo), a diakonia (serviço), a martúria (testemunho), e se esquecendo que há uma parousia (segunda vinda de Cristo), onde prestaremos conta de nossos atos, independentes de sermos salvos ou não. Eu quero mudar! Eu quero fazer mais para que Cristo seja glorificado. Eu quero berrar ainda mais para que o evangelho não seja envergonhado!


E você?


Ave Crux, Unica Spes!


Fonte Ecclesia Reformanda, via Pavablog

2 comentários:

Anônimo disse...

O GIGANTE CORDEIRINHO
SEMELHANÇAS E COINCIDÊNCIAS

Desde criança sempre gostei de circo, quando passava um carro anunciando a chegada de uma nova companhia circense eu ficava atento para não perder a estréia do espetáculo. De todos os números um me chamava a atenção, o do “elefante”. Aquele paquiderme enorme seguindo à risca as ordens de seu treinador sem se preocupar com a platéia que assistia a tudo com muita atenção. Curioso, procurava saber como eles eram preparados e vez por outra pegava o pessoal do circo de surpresa, aprontando o animal. Quer saber como se treina um elefante de circo? É incrível como os domadores conseguem convencer um animal daquele tamanho, pesando toneladas, com uma força bruta e segundo os cientistas um dos animais mais inteligentes a fazer aqueles números circenses, mas não é muito difícil de explicar. Quando o animal ainda é muito novo, eles o pegam e o prendem a uma grande e forte corrente em uma estaca e ai o animalzinho vai tentar por várias vezes se livrar da corrente e escapar, mas após tantas tentativas frustradas ele simplesmente se convence de que é impossível, está preso ali pra sempre, então os tratadores o prendem com uma corda e conforme o tempo passa, podem até mesmo deixá-lo solto que ele não vai fugir! Toda vez que ele obedece a um comando e realiza uma tarefa ele é recompensado com uma “BALA DOCE”. É isto mesmo! Por que ele não foge? Porque ele, condicionado, “sabe” que não pode; que não consegue, apesar de ser jovem ou adulto e poder destruir o circo se quiser, ele acredita que não tem esse poder porque foi condicionado a pensar assim e assim viverá para sempre como um “elefante de circo”. Jamais colocará à prova sua força mesmo estando livre.

Para minha surpresa, eu assistia a um programa na “RIT” - que não é hábito meu, pois não gosto de porcaria - da IIGD - Igreja Internacional da Graça de Deus, no Rio de Janeiro, aquela mesma do “SHOW DA FÉ” e o Pastor(?) diga-se ”animador de auditório”, fazia a chamada para a “Campanha da Bala Doce” que aconteceria no domingo, 24 de maio de 2009 e aí a ficha caiu, me veio a mente com exatidão o espetáculo circense onde o ELEFANTE era recompensado com “uma bala”. Percebi logo a similaridade nas duas situações, no circo um “animal” era agraciado, na IIGD seria literalmente o “povão”. O que me chamou a atenção é que o produto ou as balas expostas e mostradas que seriam oferecidas eram as de pior qualidade sob todos os aspectos, a “economia à base da porcaria” estava mais uma vez consumada ao vivo. “Balas consagradas”, um despropósito, uma afronta e uma violência contra o povão, mas como balas são balas e atraem as crianças...

Esta é uma realidade insofismável, os crentes hoje estão se satisfazendo com as “balas doces” oferecidas nos templos, que foram transformados em verdadeiras lonas de circo, onde não faltam artistas, acrobatas, mágicos, equilibristas e animadores de auditório sem falar nos palhaços que compõem a platéia, que são um capítulo a parte. Por não conhecerem o poder que lhes foi confiado por Deus, e condicionados pelas “correntes” que foram atadas as suas vidas, os crentes se sentem satisfeitos com qualquer coisa que é ofertado a eles, como agrado vale até um cargo na diretoria, um ministério ou até mesmo um titulo de “obreiro”. Uma benção, uma promessa, uma cura de qualquer coisa, uma graça, uma “oração forte” e lá vai o animal resignado. O elefante, com toda a sua força, se adapta às circunstâncias porque é irracional, o que não podemos admitir em hipótese alguma é que pessoas que confessam a Cristo como Senhor e Salvador, que são dotadas de “livre arbítrio” e de inteligência, também possam se acomodar com as “migalhas” da ilusão espiritual servidas pelas lideranças religiosas hoje.

Isso muitas vezes acontece conosco. Vivemos acreditando em um montão de coisas que não podemos ter ou que não podemos ser; que não vamos conseguir simplesmente porque ainda somos “crianças espirituais” inexperientes e a corrente da “estaca religiosa” ficou gravada na nossa memória com tanta força que perdemos a criatividade e aceitamos passivamente o "sempre foi assim". Dependemos dos “treinadores” religiosos, que com astucia e sagacidade usam o poder de persuasão para dominarem os seus comandados. Mas a única maneira de tentar algo novo é não ter medo de enfrentar as barreiras, colocar muita coragem no coração e não ter receio de arrebentar as correntes.

Os crentes verdadeiros foram revestidos de “poder” para realizarem obras que impactassem o mundo, no entanto o que se vê é o contrário, o mundo impactando a igreja com os seus produtos. Tem muito crente sendo tratado como elefante nos circos armados por picaretas que usam o picadeiro para dominarem as suas presas. As “casas de espetáculos” vão se expandindo, lonas são erguidas em todos os lugares e o que não falta é platéia para enchê-las até porque a religião está sendo movida exclusivamente a “shows”, e neste caso quem oferecer os melhores garante o maior publico e uma boa arrecadação. Todos correm sim, atrás de uma fatia no mercado da fé. As “balas” dos falsos milagres, das correntes poderosas, da tecnologia, do engano, da ganância, da ameaça, do lucro fácil, da prosperidade são distribuídas e consumidas livremente pelos freqüentadores dos circos que ficam extasiados e anestesiados com o que recebem em troca de comungarem as mesmas idéias dos donos das “companhias circenses”. Só lembrando que o “ingresso” deve ser pago antecipadamente em agências bancárias, de preferência do “Bradesco”.

A minha sugestão é que você faça uma análise profunda e detalhada do que está recebendo nas suas comunidades de fé, veja se não está sendo ludibriado com “balas” ou algo semelhante, pois o excesso de doce causa danos ao corpo podendo até matar. Pense no “ELEFANTE” do circo! Outra coisa, use a força e o poder que Deus lhe confiou, liberte-se das “cordas psicológicas espirituais” que os empresários religiosos lhe ataram, lembre-se que você já não é mais “criança” e, portanto tem o dever de agir como um adulto sob todos os aspectos e isto inclui a fé e as práticas religiosas. Cuidado! Os espertalhões na verdade correm atrás do lucro e para isto fazem qualquer negócio e as “balas”, por ser o carro chefe, não podem ficar de fora.

“Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama, será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele” - João 14:21.

“Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão ao Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem” - João 4:23.



Carlos Roberto Martins de Souza
crms1casa@hotmail.com

Cláudio Costa Da Silva disse...

Carlos

Obrigado por sua preciosa participação neste pequeno espaço.
Como tenho dito a onde tenho oportunidade, é chegado o tempo em que a verdadeira igreja será reconhecida por pequenos exemplos com base no amor descrito nos evangelhos, mas que impactarão profundamente vidas.
O modelo de igreja circense está fadado ao descrédito ou ao destino que se propõe - entreter.
Um abraço e sempre que desejar retorne com suas preciosas contribuições.
Graça e paz!!