Texto: Daniel Grubba
Toda vez que via a igreja com gente "saindo pelo ladrão" logo pensava: "Isto que é avivamento!" Semelhantemente quando um novo censo do IBGE constatava o crescimento carismático pentecostal; ou até mesmo, quando alguns profetas teatralizavam aqueles atos proféticos cheio de signos e símbolos, que carregavam em si mesmo o poder imediatista da mudança do país. Em outras ocasiões, gritos exagerados de júbilo eram corneteados em ovação pública quando o empolgado pastor dizia: "Seremos a maior nação evangélica, este país será transformado!". É extasiante perceber que você faz parte de algo tão grandiosamente messiânico, é um exorcismo simbólico da crise de inferioridade tupiniquim.
Os anos passam e o fervor dos zelotes é suprimido pela força das contrariedades. Nos tornamos os céticos joão-batistas, investigadores da missão de homem de Nazaré. "És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro?" (Lucas 7 : 20). Entretanto, há aqueles que a semelhança de Judas, de tão decepcionados tentam forçar uma barrinha, e acreditam de todo coração poder arrancar do cordeiro de Deus um rugido de leão. Neste caso, o fim todos sabem; suas vísceras tornar-se-ão um espetáculo macabro. Os fins não justificam o meio.
Eis abaixo uma constatação perturbadora do bispo Anglicano Robinson Cavalcanti:
O pentecostalismo que nos chegou não foi o da ala negra da rua Azuza, com sua visão social, mas o da ala branca, com seu isolacionismo, sua ascese extra-mundana e sua escatologia pré-milenista pessimista. Com o passar do tempo, permaneceu apenas o conceito de pecado individual e de uma ética individual da santidade negativa (não fazer o mal) — e não da santidade positiva (fazer o bem) — legalista, moralista, sem os conceitos de pecado social e pecado estrutural, e ética social. A teologia da libertação, racionalista, enfatizaria esses últimos às custas dos primeiros, e, por fim, a teologia liberal pós-moderna, relativista, e amoral, negaria ambos. A “batalha espiritual” reforçaria a alienação e a teologia da prosperidade seria a face religiosa do neoliberalismo capitalista. O neo-pós-pseudo-pentecostalismo não prega conversão e santidade, mas neo-indulgências e sessões de descarrego. Do novo nascimento ao sabonete de arruda tem sido um longo caminho, por onde passam os sócios “evangélicos” dos escândalos da República. Uma igreja insípida não salga nem salva um país enfermo.
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