Por Alexandre Galli
Os últimos anos da economia no Brasil foram marcados por boas notícias: crescimento da produção industrial, aumento do comércio exterior, geração de mais postos de trabalho com conseqüente diminuição do desemprego, melhoria (tímida) na distribuição de renda, recordes atingidos na produção e venda de automóveis, construção civil super aquecida, bolsa de valores atingindo picos de valorização refletindo a saúde financeira das empresas negociadas e o comércio vendendo como nunca são acontecimentos que foram vistos por todos como sinal de que a prosperidade aportava por estas terras tupiniquins para ficar.
Essas boas notícias não aconteciam como conseqüência das políticas industriais e de desenvolvimento deste governo (até porque não há política industrial e de desenvolvimento neste governo). Também não eram conseqüências de nossa boa infra-estrutura, nem de nossa política educacional que forma jovens competentes para o mercado de trabalho (nossos jovens mal sabem ler ao sair do ensino médio).
A economia brasileira “bombou” nos últimos anos por um único motivo: a economia mundial estava bem. Estados Unidos e Europa consumindo, China, Índia e Rússia crescendo vertiginosamente e, num mundo altamente globalizado, todos tiraram proveito do sucesso de todos.
Mas (e sempre tem um “mas”), justamente de onde não se esperava, veio o balde de água fria. Os consumidores americanos estavam atolados em dívidas lastreadas em seus imóveis, que não paravam de se valorizar, e o consumidor não parava de aumentar seu endividamento e de consumir. Até que o ciclo se rompeu. A “bolha estourou” como gostam de dizer os economistas. Os imóveis começaram a perder preço, os americanos pararam de pagar suas prestações, os bancos começaram a quebrar, o mundo entrou em pânico e pronto. Acabou a festa. Demissões anunciadas, empresas fechando e perspectiva de recessão para, no cenário mais otimista, o próximo ano.
Enquanto isso no Brasil, os políticos governistas capitaneados pelo seu Presidente, se esforçavam em convencer a todos que o problema deveria ser resolvido pelo Bush (palavras do próprio Lula) e que nada estragaria nosso sossego.
Até que as empresas brasileiras começaram a sentir os inevitáveis efeitos da turbulência e anunciaram suas medidas: férias coletivas, demissões e diminuição das previsões de investimentos para o próximo ano.Pois bem: se o governo afirmava que o sucesso da economia se devia às suas medidas, agora, no momento do fracasso, afirma que a culpa é dos “países ricos”, e que não tem nada com isso.O que há de estranho neste comportamento? Nada. É assim que se faz política, não só no Brasil, mas no mundo todo.
O estranho, é que, assim como os políticos, muitos religiosos evangélicos colocaram-se como os responsáveis pelo bom momento da economia. Tudo ia bem graças às suas orações, sua intercessão pela nação, seus jejuns, suas campanhas. Há até um site de uma campanha de jejum anual promovida por uma igreja da região do ABC paulista, dizendo que um dos sinais das bênçãos de Deus é uma “notável melhora econômica”. Justamente uma igreja do ABC, uma das regiões que mais estão sentindo os efeitos da crise, já que a economia da região é altamente dependente das montadoras de automóveis, que estão praticamente paradas e com os pátios lotados.
Senhores pastores e líderes evangélicos: não tratem suas ovelhas como burros. Esta crise certamente atingirá a todos, indistintamente, inclusive as próprias igrejas, e quando isso ocorrer, veremos qual será o discurso. Seria o “é culpa do diabo”? Seria o “é a falta de fé do povo”? Seria o “é culpa da mídia”? Ou seria o improvável “desculpe por mentir para vocês fazendo-os crer que quando tudo estava bem era por causa das minhas orações”?
Estou certo de que os cristãos serão muito importantes na reconstrução da economia global, se estiverem dispostos a colocar em prática seus elevados valores morais e força de trabalho em prol de uma sociedade mais justa e equilibrada.
Mas, enquanto prevalecerem os discursos histriônicos de gente que já se distanciou há muito tempo da realidade, os cristãos continuarão a ser parte da crise (no sentido mais amplo da palavra) e não solução para ela.
Fonte Blog Teses & Antíteses
2 comentários:
A coisa tá ficando pior a cada dia, homens que jamais imaginaria que seriam "vendidos"por essa teologia mercantilista e mesquinha, como o Jabes Alencar. onde vamos parar desse jeito? só Jesus para nos dar graça
Altemar.
O Jabes eu não conheço, mas o veneno do Jerônimo Onofre desde o final dos anos 80.
O discurso dele não mudou, só a fortuna dele que aumentou e é aferida em milhões de reais.
Embora a foto não foi postada no texto original eu achei bem coerente com o texto do Alexabdre Galli que por sinal muito lúcido.
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