Postado por Gutierres Siqueira, 19 anos
Hillsong, um grupo musical das Assembléias de Deus na Austrália, estourou em sucesso nos primeiros anos da década de 1990, influenciando os grupos musicais das igrejas evangélicas em todo o mundo. Os louvores das igrejas pentecostais e carismáticas ganharam uma nova roupagem e influenciaram fortemente igrejas tradicionais.
Hoje, as músicas do Hillsong United, versão mais jovem do grupo, são cantadas no mundo inteiro e inspira várias bandas locais. No Brasil, a Igreja Batista da Lagoinha e o seu Ministério de Louvor Diante do Trono divulgaram o "jeito hillsong" de cantar[1]. Vários rótulos foram dados ou auto-proclamados a esse novo movimento musical, inclusive de adoração extravagante, levitas, geração de adoradores, louvor profético etc. Há problemas sérios envolvendo esse novo momento da musicalidade protestante, assim como algumas vantagens trazidas pelos "ministérios de louvor".
I. Equívocos dos adoradores extravagantes
a) Concreto pelo abstrato
Nessa nova musicalidade há muita espiritualização daquilo que não é espiritual. O concreto é constantemente substituído pelo abstrato. Nesse pensamento são comuns declarações "proféticas" para conversão do país e proclamações triunfalistas sobre "um grande avivamento". Nesse ufanismo nada concretamente é feito, como maior exposição das Escrituras, orações acompanhadas de ação inteligente e dirigida por Deus, segundo os valores expostos na Palavra do Senhor.
b) Mistificação do louvor
É comum nesses "ministérios de louvor" uma ultra-valorização do emocional. Choros, gritos, pulos, cânticos espontâneos são indispensáveis nessas reuniões de louvor. Erro comum no meio pentecostal é considerar manifestação espiritual somente aquilo que é sensasorial e visível.
Nessa mistificação instrumentos musicais são "ungidos" e outros são considerados sagrados, tais como o shofar (instrumento musical feito de chifre de carneiro). Para muitos, o toque o shofar "libera unção". Outros deixam o som de seus aparelhos ligados para mudar o ambiente de suas casas. Tal espiritualidade se aproxima mais da religiosidade oriental do que das Escrituras Sagradas.
Muitas músicas parecem um mantra, onde a repetição é excessiva. Algumas músicas chegam a 20, 35 ou até 45 min repetindo a mesma letra. Essa atividade não é nada racional para um culto cristão.
c) Culto transformado em show
Bom seria se muitos "adoradores" se reconhecessem como artistas, pois enquanto negam tal definição, se comportam como tal. Philip Yancey acertou em cheio quando escreveu: "A igreja existe, não para oferecer entretenimento, encorajar vulnerabilidade, melhorar auto-estima ou facilitar amizades, mas para adorar a Deus. Se falharmos nisso... A igreja fracassa."[2].
Estrelismo tem tomado conta de mega-apresentações, onde o líder carismático é rodeado de fãs enlouquecidos. Muitos desses líderes tentam resistir ao estrelismo, mas não conseguem por estarem inseridos dentro de um movimento que é show por si só. Uma liturgia simples é substituída pela parnafenália de equipamentos e efeitos especiais que despertam os ânimos no momento das "ministrações".
d) Conceito equivocado de ministério
Nas Escrituras não há o conceito de "ministério de louvor", pois a musicalidade litúrgica é para toda a congregação, não somente para um grupo determinado. Não existe ministros de louvor, biblicamente falando, todavia essa é mais uma expressão da espiritualidade veterotestamentária presente nas igrejas cristãs.
Não, não está escrito que "Deus deu uns para apóstolos, profetas, pastores e ministros de louvor". Bem, que é mania da igreja evangélica brasileira inventar ministérios, como exemplo o de contribuir financeiramente para um programa na TV, sendo o "ministério dos colaboradores".
f) Cultos vetero-testamentário
A linguagem dos "ministério de louvor" são tipicamente do Antigo Testamento. Os "atos proféticos", "clamores de arrependimento pela nação", "atos simbólicos" e a mania de se colocarem como levitas é um mal constante nesse movimento. Normalmente, os líderes desses grupos são judaizantes, pois até kippah (cobertura para a cabeça) e talid (manto para orações) são possivéis ver em alguns cantores.
Como lembra o professor Augustus Nicodemus: "Isso reintroduz o conceito que foi abolido na Reforma protestante de que o louvor e o acesso a Deus são prerrogativas de apenas um grupo e não de todo o povo de Deus"[4].
e) Ligação com modismos perniciosos
Boa parte dos "ministérios de louvor" estão totalmente ligados a movimentos heterodoxos como a teologia da prosperidade, confissão positiva, maldição hereditária, bênção de Toronto, gedozismo, batalha espiritual etc.
II. Acertos dos adoradores extravagantes
Nem só de equívocos os adoradores extravagantes estão cheios, alguns de seus acertos devem ser imitados por todos aqueles que gostam de louvar ao Senhor.
a) Letras de adoração
O movimento de adoração conseguiu produzir maravilhosas músicas, com letras bem feitas e com mensagens de adoração, mas com exceções [3]. No meio pentecostal eram comuns letras com exortações descabidas e até engraçadas, como uma música chamada "Teleleão", que exorta sobre os perigos da TV. Outros "louvores" estavam e ainda estão recheados de clichês de auto-ajuda, onde o triunfalismo reina nas letras. Os "hinos de fogo" são violentamente anti-bíblicos ou exagerados em sua análise da espiritualidade pentecostal.
Enquanto isso, os grupos de adoração conseguiram produzir letras muito boas, como "Aclame ao Senhor" e "Preciso de Ti". Essas letras realmente transmitem um louvor de adoração.
b) Despertamento para a importância do louvor
A música não era muito valorizada pelas igrejas protestantes, pois o conformismo técnico e uma produção musical de qualidade quase não existia. É consenso que os "ministérios de louvor" aumentarão a qualidade técnica, mas como visto no texto, não aumentou a qualidade de maneira geral.
Conclusão:
Uma análise desapaixonada, sem espiritualizações descabidas, precisa ser feita sobre qualquer movimento evangelical que se apresenta como um novo avivamento.
Notas e Referências Bibliográficas:
01. Esse texto é teológico-apologético, mas para uma análise sociológica do movimento de "adoração", veja: CUNHA, Magali do Nascimento. A Explosão Gospel. Rio de Janeiro: Mauad X e Instituto Mysterium, 2007. pp. 105-136. Para uma análise da musicalidade pentecostal no decorrer da história, ver: ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007. pp 496-499.
02. YANCEY. Philip. Igreja: Por Que Me Importar. São Paulo: Vida Nova, 2001. p. 25.
03. NICODEMUS, Augustus. O Que Estão Fazendo Com a Igreja. São Paulo: Mundo Cristão, 2008. p. 160.
04. Algumas letras são altamente anti-bíblicas, como a música "Vitória na Cruz" do Diante do Trono.
Fonte - Blog Teologia Pentecostal
10 comentários:
muito bom este tema, sou músico e há algum tempo não ouço mais este tipo de música denominada "gospel", justamente pelo fato de produzir muito conteúdo anti-bíbico.
Deus Abençõe
É verdade Altemar, eu sou dos que buscam referencias de louvor no fundo de baú, que acompanha o blog sabe que seguido faço referência a isto.
Mas creio que essa onda extravagante e outras modas são sintomas de um mal mais profundo, a perda de identidade de servos de Jesus, no geral vemos os cristãos sendo os senhores e "Deus" o servo, quase um ofice-boy da fé.
Obrigado pelo comentário
Deus abençõe
Irmão Cláudio.
Encontrei uma postagem sua em uma comunidade orkutiana, na qual havia um link direcionando para o seu blog. Quero cumprimentá-lo pelo excelente trabalho. Boas postagens, temas interessantes e muita seriedade.
Que Deus o abençoe e te use cada vez mais.
Também tenho me envolvido nesse dificil labor pela manutenção da ortodoxia cristã. Criei para isso o blog PULPITO CRISTÃO (http://pulpitocristão.blogspot.com/), no qual exponho as heresias, modismos e psicologizações tão comuns nas pregações contemporâneas. Devido à clareza com que foi tratado o tema do "Avivamento Extravagante", gostaria de expor essa postagem no PULPITO CRISTÃO (obviamente que com os devidos créditos e um link direcionando o seu blog). Também estarei adicionando seu blog na minha lista de favoritos, para ajudar na divulgação do blog.
Um forte abraço, e saiba que você não está só nessa luta.
Leonardo G. Silva
Acho legal esse modernismo.
Acho legal esse modernismo.
Quebrou muito o preconceito contra a musica evangelica
Acho legal esse modernismo, pois quebrou muito preconceito
oi amado irmão.
vamos ganhar as almas perdidas,e orar para Deus revelar verdadeiramente o q tem agradado-ooo.Derrepente n te agrada este movimento,mais vamos buscar saber o q tem agradado o coração de Deussss?????
Caro Gutierres,
gostei da análise. Verifica-se na mesma a busca pelo equilíbrio. Todavia, sua conclusão poder ser mais aperfeiçoada de modo a apontar maiores direções ao invés de sugerir uma "análise desapaixonada, sem espiritualizações descabidas", pois duvido que os cristãos envolvidos com o louvor pentecostal vejam suas ações como "espiritualizações descabidas".
Outro ponto que observo é a ausência de algumas referencias sobre o louvor na igreja brasileira a exemplo de Rubem Amorese (Louvor e Adoração. Viçosa, MG: Ultimato, 2006).
Enfim, tratam-se de ponderações que pretendo aprofundar em momento oportuno.
Parabéns pela análise e fique em paz!
É engraçado como os tradicionais combatem os pentecostais, não é?
Ao invés de buscarem um profundo relacionamento com Deus, preferindo o superficial, combatem os próprios irmãos em Cristo. O inimigo agradece o apoio de graça.
que a paz do Senhor esteja com Todos nos.
Amados esse e um assunto muito serio e o irmao, conseguiu decifrar exatamente o que vem ocorrido; o uso do paganismo, dentro dos louvores cristaos, eu sou um dos que procuro, encarar de frente esse "avivamento de louvor", quero vos advertir que os Hinos do cantor Cristao, da Harpa e hinarios, sao louvores direcionados a Deus, existem claro alguns cantores que levam o louvor com mensagens cristas, porem em sua maioria nao, e a busca o regionalismo dentro do louvor, como samba, pagode, forro, xote, sertanejo, rock, metal, etc, nao deveria estar nos pulpitos, que alias se transformaram em palcos, vamos sim expressar a exencia do verdadeiro louvor, que deus nos abencoe.
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